A culpa que deveria ter caído sobre fulano ou beltrano, não caiu coisa nenhuma. Os apelos pela manobra, e a via rápida da circunstância mais favorável, tem sido amigas íntimas do poder. Em quase todas as esferas. Fulano e beltrano são como se fossem você e eu, lá. Eles nos representam. Foram levados pela via democrática do voto, também contaminada pelas manobras e sutilezas, mas ainda é o que temos. Mas na verdade não somos assim. Portanto, quem está lá?
Quando os pares da casa dizem que fulano não é culpado, eles querem dizer também que beltrano nada deve. E eu com isso? E você? Devemos, ou melhor, devíamos tomar alguma providência. Quem não deve é quem teme neste país. Pois muitos dos que realmente devem, passam pelo afago do corporativismo e se embrenham conchavos adentro. Ficam quase ilesos. Escapam por um tempo e conseguem sobreviver politicamente. Digo politicamente porque a sobrevida de gente corrupta acontece numa dimensão que a maioria dos mortais eleitores desconhece. É uma farsa disfarçada de conduta.
O Brasil tem sido espancado. A violência que nos ronda não apenas invade nossas casas ou aumenta nossas grades. Ela violenta nossa esperança. Sacode nossos sonhos e dá uma cusparada no bom-senso nosso de cada dia. Políticos decidem uns pelos outros, sem levar em conta a ética e a opinião pública. Sem levar em conta a constituição e o decoro. Sem levar em conta a conta que será paga, porque esta somos nós que pagamos.
Penso que deveríamos nos absolver também. Declarar que somos inocentes. Votamos e acreditamos em muitos homens e mulheres que não nos disseram de verdade quem eram. Ou eram de verdade quem são, e nós enxergamos outros. Nos bastidores, corredores e gabinetes, ou no secreto de uma decisão muito além do voto, eles de fato aparecem. Sugam, compram, vendem, trocam, leiloam, vasculham, corrompem e são corrompidos como um modo de ser. Um jeito brasileiro de conduzir o que os brasileiros não precisam saber.
Inocentemo-nos uns aos outros. Cidadão e cidadã do Brasil, ninguém nos culpe. E, por favor, não nos cobrem nada. Estamos com saldo positivo. Trabalhamos duro, pagamos altas taxas, não recebemos quase nada em troca. Uma bolsa aqui, uma migalha ali, uma fila cheia acolá. Mas vida mesmo, não. Qualidade, perspectiva, seriedade, sobriedade, é disso que estou falando. É disso que sentimos falta. Ética, consideração, respeito...
Somos e estamos inocentes. Permaneceremos assim. Pena que tão calados, tão ausentes da vida pública e passivos, inertes, na base do ah é, sem lutar, sem exigir que parem de bater em nossa cara assim. Seja ao vivo, ou em sessões secretas. Parem de nos humilhar tanto. Respeitam ao menos nosso voto. Já que nossa dignidade foi jogada na latrina. O argentino diz: “Não me passa nada”. Mas aqui passa, no velho Brasil de guerra, onde passa boi passa boiada.
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